Pedro: Sua característica improvável

Pedro era conhecido por sua personalidade extrema: ele podia ser profundamente espiritual em um momento e falhar de forma desastrosa no seguinte. Era o tipo de pessoa que não conhecia meio-termo.

Alguns exemplos:

• Cheio de fé: Caminhou sobre as águas, confiando na palavra de Jesus (Mateus 14:28-29).
• Dominado pelo medo: Afundou porque olhou para o vento e duvidou (Mateus 14:30-31).
• Revelação divina: Confessou a Jesus como Cristo, Filho de Deus (Mateus 16:16).
• Engano humano: Logo em seguida, repreendeu Jesus e ouviu: “Para trás de mim, Satanás” (Mateus 16:23 NVI).
• Prometeu fidelidade total: “Ainda que todos te abandonem, eu nunca te deixarei” (Mateus 26:33 NVI).
• Cedeu à pressão: Negou Jesus três vezes naquela mesma noite (Mateus 26:69-75).

Na cultura da época, ser impulsivo e inconstantenão era visto como virtude. O judaísmo valorizava o homem sábio, equilibrado, ponderado, que meditava na Lei e respondia com prudência. Pedro era o oposto disso: falava antes de pensar, reagia antes de refletir, tomava decisões que beiravam a imprudência.

Hoje, diríamos que Pedro era uma pessoa “8 ou 80”— ora totalmente entregue, ora totalmente em crise. Esse tipo de personalidade é, em geral, interpretado como defeito, porque transmite instabilidade. Pessoas assim podem ser vistas como emocionais demais, intensas demais, até “difíceis de lidar”.

Contudo, é interessante notar que Jesus nunca desprezou essa intensidade em Pedro. Pelo contrário, canalizou-a. O problema não estava no “muito” de Pedro, mas em onde ele colocava esse “muito”. Quando sua intensidade estava voltada para si mesmo, caía; quando estava voltada para Cristo, era extraordinário.

E aqui está um paralelo precioso: até o próprio Jesus, de certa forma, viveu os “extremos”. Ele é chamado tanto de Cordeiro manso (João 1:29) quanto de Leão de Judá (Apocalipse 5:5). Ele é o primeiro e o último, o servo sofredor (Isaías 53) e o Rei vitorioso(Apocalipse 19:16). Em Cristo, os extremos encontram equilíbrio, porque não são resultado de impulsividade, mas da plenitude de quem Ele é.

Pedro, com todos os seus excessos, nos mostra que Deus não exige de nós uma “neutralidade artificial”, mas sim uma entrega real. O que Ele quer é canalizar nossa intensidade para o Reino.

Reflexão

Muitas pessoas se julgam incapazes de servir a Deus porque têm uma personalidade “forte demais”, ou porque já tomaram decisões impensadas no calor da emoção. Talvez você se veja como alguém que é “tudo ou nada”: quando ama, ama demais; quando falha, falha feio.

A boa notícia é que Deus não rejeita esse tipo de coração. Ele apenas o redireciona.

• Pedro foi intenso para negar, mas também foi intenso para se arrepender.
• Foi extremo ao afundar, mas também extremo ao se jogar no mar para encontrar Jesus ressuscitado (João 21:7).
• Foi radical ao cortar a orelha do servo (João 18:10), mas também radical ao pregar em Pentecostes, onde três mil pessoas se converteram (Atos 2:41).

Talvez você viva se perguntando:“Será que não seria melhor eu ser mais equilibrado? Mais centrado? Mais controlado?” Mas a questão não é se você deve ser “menos intenso”. A pergunta é: para onde está direcionada a sua intensidade?

Quando o fogo da sua vida é posto em Cristo, ele deixa de ser destrutivo e passa a ser transformador.

Oração

Senhor Deus, obrigado porque Tu não rejeitas a minha intensidade, mas a redimes. Eu reconheço que muitas vezes vivo nos extremos, ora cheio de fé, ora cheio de medo. Mas quero que a minha vida seja canalizada para Ti, assim como Pedro foi transformado de um homem impulsivo em um apóstolo ousado. Ajuda-me a não desperdiçar meu “muito”, mas a colocá-lo inteiramente em Tuas mãos. Que o fogo da minha vida não queime em vão, mas ilumine o caminho de muitos para Ti. Em nome de Jesus, amém.