FundamentoExemplo

Ele endireitará as suas veredas

A sabedoria começa com confiança: não em nós mesmos, mas no Senhor. O caminho certo não nasce do nosso controle, mas da nossa entrega.

Lectio. “Reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas.” Pv 3:6 NVI (Leia toda a passagem de Pv 3:5-12)

Meditatio. Este trecho central de Provérbios 3 apresenta três binômios que estabelecem o caminho da sabedoria: confiar e reconhecer (v.5-6), temer e honrar (v.7-10), aceitar e aprender (v.11-12). Primeiro, a sabedoria começa com confiança. “Confie no Senhor de todo o seu coração” é uma convocação à entrega total, uma fé que renuncia à autossuficiência: “e não se apoie em seu próprio entendimento”. A palavra hebraica para entendimento (Hb biynah) envolve percepção, discernimento — e o texto alerta: não confie só nisso. O caminho seguro exige reconhecer o Senhor — ou seja, levá-lo em conta, prestar-lhe reverência ativa em cada decisão. A consequência é maravilhosa: “ele endireitará as suas veredas”. O verbo usado indica alinhar, nivelar o caminho — Deus se encarrega do resultado quando o confiamos a ele. O segundo binômio chama ao temor e honra. Não basta confiar interiormente, é preciso agir externamente. “Tema o Senhor e evite o mal” — é um chamado à integridade. E “honre o Senhor com todos os seus recursos” — um convite à generosidade fiel. Quem faz isso experimenta saúde no corpo e fartura em casa (v.8-10). O terceiro binômio lida com a disciplina divina. Quem confia e honra ao Senhor também deve estar disposto a aceitar sua repreensão. O texto lembra: “o Senhor disciplina a quem ama” (v.12), ecoando o padrão paternal. A sabedoria nos treina pela correção. O erro é confiar na própria razão, achar que o caminho certo depende de controle. O acerto é reconhecer o Senhor nos mínimos detalhes da vida. A instrução é clara: confie, honre, aceite. Deus endireita veredas tortuosas para quem se submete com fé.

Oratio. Adore ao Senhor que, em sua soberania, endireita nossos caminhos quando confiamos nele. Confesse se você tem tentado controlar tudo com seu próprio entendimento, sem reconhecê-lo nas decisões diárias. Agradeça porque, mesmo nas correções, o Senhor age como Pai amoroso, guiando você em retidão. Submeta-se à vontade dele, escolhendo a confiança em vez da ansiedade. Dedique-se a honrá-lo com tudo o que você é e tem, reconhecendo-o em cada passo. Ore para que suas veredas tortuosas sejam endireitadas por ele, para a glória do seu nome.

Contemplatio. Veja-se caminhando em uma estrada sinuosa, entre montanhas. À frente, o caminho se perde em curvas e barrancos. Você está cansado, inseguro, e tenta encontrar um atalho. Mas logo percebe: o GPS que você confiava falhou, e agora está perdido. Nesse momento, aparece um guia experiente, que conhece a trilha. Ele sorri e diz: “Confie em mim. Siga por aqui”. Com hesitação, você se rende. E então algo surpreendente acontece: onde havia desnível, o solo se alinha; onde havia pedras, abre-se um trilho seguro. A cada passo de fé, o caminho se revela plano, direto, confiável. Sinta a paz de entregar o controle. Veja o que Deus é capaz de fazer quando você para de tentar controlar e começa a confiar.

Confessio.
Sempre passei — e passo — pela mesma luta. Quando as coisas saem do meu controle, protesto, insisto em saber a razão, questiono as veredas que me parecem tortas. Só depois de algum tempo me rendo e entrego, reconhecendo que Deus sabe mais do que eu e está no controle total do que me acontece.

Lembro, por exemplo, de meu primeiro pastorado. Conduzir a igreja de volta ao fundamento das Escrituras exigiu disciplina e firmeza. Tornei-me impopular. Muitas pessoas se afastaram. O templo esvaziado parecia um sinal de que talvez eu tivesse errado. Duvidei. Mas perseverei. Ainda que enfraquecido espiritual, emocional e fisicamente, continuei dependendo do Senhor. Meses depois, os irmãos que permaneceram comigo estavam unidos, e a igreja crescia novamente de forma dinâmica. Iniciamos dois, três cultos — e, só então, percebi: as veredas tortas haviam sido endireitadas por Deus.

Esse processo me ensinou a confiar, orar e esperar. Tenho um “medo santo” de pedir algo que Deus não quer me dar. Oro sempre buscando entender primeiro a vontade dele — e só depois peço. Temo ser Marta, apressada em servir, quando devo ser Maria, sentada aos pés do Senhor. Creio que a vontade de Deus se manifesta também na unidade dos crentes, por isso presto atenção ao que dizem os irmãos ao meu redor.

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Os títulos das seções Lectio, Meditatio, Oratio e Contemplatio, referem-se às quatro práticas devocionais da Lectio Divina, um método devocional de leitura das Escrituras, praticado desde os tempos patrísticos e sistematizado no século XII por Guigo II. A ele, o autor acrescentou uma quinta prática devocional, Confessio, incluindo o testemunho como parte dessa leitura orante das Escrituras.