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Um espírito de sabedoria

O contraste entre a possibilidade de sabedoria e a falta dela é gritante, mesmo assim, os ingênuos, os irreverentes e os ignorantes não se importam com isto.

Lectio. Se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revelarei os meus pensamentos. Pv 1:23 NVI. (Leia todo o texto Pv 1:20-27).

Meditatio. Provérbios 1:20-27 apresenta o contraste gritante entre a possibilidade de ter sabedoria e a ausência dela. O texto nos conduz a um exame profundo das motivações humanas que levam à negligência da sabedoria e às terríveis consequências dessa escolha. A sabedoria é personificada como alguém que clama em alta voz, em locais públicos e movimentados, como ruas, praças e portas das cidades. Sua existência é evidente, sua mensagem é clara, e seu alcance é amplo. No entanto, mesmo que o contraste entre a sabedoria e a falta dela seja tão evidente, isso ainda é ignorado por muitos. Então, o texto revela motivações emocionais que sustentam essa rejeição. Os ingênuos amam sua ingenuidade, os irreverentes têm prazer na zombaria, e os ignorantes odeiam o conhecimento. Esses sentimentos impedem a valorização da sabedoria e perpetuam a rejeição do convite à transformação. A sabedoria promete dar seu espírito, isto é, mudar o comportamento, e suas palavras, ou seja, prover conteúdo, a quem lhe der importância, mas tal aceitação exige o rompimento com essas motivações. A urgência de mudança é enfatizada na descrição de consequências terríveis para os que a desprezam. Aprendemos que a necessidade de sabedoria é evidente, mas há motivações emocionais que impedem reconhecer sua importância. O texto promove a humildade e a prontidão para ser corrigido, e instrui sobre a urgência de sempre buscar o entendimento.

Oratio. A personificação da sabedoria nesse texto nos lembra que no Novo Testamento, Jesus é revelado como a sabedoria de Deus (1Co 1:24,30; Cl 2:2,3). Adore, pois, ao Pai, que é a fonte de toda sabedoria e que revelou em Cristo os tesouros do conhecimento e a transformação pelo conhecimento da verdade. Confesse as vezes em que você preferiu a ingenuidade, a irreverência ou a ignorância, resistindo à correção e rejeitando o conselho da sabedoria que nos chama. Agradeça porque Deus nunca se recusa a nos dar sabedoria quando pedimos com fé, crendo que a receberemos. Submeta-se ao Senhor, rendendo-se à correção dele e permitindo que arranque as motivações erradas em nossas emoções, que nos afastam da sabedoria, e dedique sua vida ao propósito de buscar o conhecimento do Santo, deixando que isso transforme sua vida e influencie outros a ouvirem o chamado de Cristo, a luz que ilumina nossa mente.

Contemplatio. Com os olhos espirituais, enxergue um adolescente a quem Deus ofereceu a chance de adquirir sabedoria e conhecimento, mas que luta contra um desejo ardente de ser aceito por seus colegas. Veja-o hesitar, dividido entre a oportunidade de caminhar na luz e a tentação de buscar aceitação nas brincadeiras irreverentes e nas conversas tolas. Perceba a pressão que ele enfrenta para não demonstrar sabedoria, temendo ser excluído, ridicularizado ou até ferido. Agora, volte-se para dentro de si mesmo. Veja como essa cena confere com sua própria história, como você também já se encontrou nessa situação. Perceba como o amor pela ingenuidade, o prazer na irreverência e o desprezo pelo conhecimento se tornam impedimentos para experimentar a verdadeira liberdade e plenitude de andar na luz de Deus.

Confessio. No início da minha adolescência, era raro encontrar outro cristão evangélico na escola. Os crentes eram poucos, bem diferentes, e as pessoas nos olhavam com estranheza. Os poucos evangélicos que conheci fora da igreja viviam como “crentes secretos”, tentando ficar abaixo do radar para evitar o bullying garantido.

Demonstrar sabedoria e conhecimento, em qualquer caso, despertava zombarias, desprezo e até agressões. Seja por inveja, sentimentos de inferioridade, preconceito ou discriminação, a maioria fazia sofrer quem ousava destacar-se como nerd, geek ou qualquer outra classificação, e isso é impossível de aceitar. Assim, parecia mais fácil amar a ingenuidade, encontrar prazer na irreverência e rejeitar o conhecimento.

Passei minha adolescência e juventude lidando com esse dilema: ser sábio ou ser aceito; ser diferente ou ser comum. Entender que a santidade significa justamente ser diferente, e isso é bom, me ajudou a preferir a sabedoria e o conhecimento, mesmo enfrentando a rejeição que isso provoca no mundo. E você, como tem lidado com ser tão diferente como a luz no meio das trevas?
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Os títulos das seções Lectio, Meditatio, Oratio e Contemplatio, referem-se às quatro práticas devocionais da Lectio Divina, um método devocional de leitura das Escrituras, praticado desde os tempos patrísticos e sistematizado no século XII por Guigo II. A ele, o autor acrescentou uma quinta prática devocional, Confessio, incluindo o testemunho como parte dessa leitura orante das Escrituras.