SOFRIMENTO - Um Servo Nas Mãos De DeusExemplo

Sofrimento como Colírio

Embora seja algo que naturalmente rejeitamos, é evidente que Deus usa o sofrimento como um colírio espiritual que desembaça os olhos do nosso coração.
A dor realinha nosso foco, desfaz ilusões e desmonta toda segurança pessoal em que nos apoiávamos. É nesse lugar, de fraqueza e desarme, que passamos a enxergar aquilo que, em tempos de paz, permanece oculto aos olhos naturais. Foi o que aconteceu com Jó, após intensa provação: “Antes eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem.” (Jó 42:5 ARA)

Isso nos ajuda a entender por que muitas orações não são respondidas no tempo ou da forma que esperamos. Enquanto clamamos “Por quê?”, Deus, em Sua sabedoria, nos conduz ao “Para quê”. Se Ele nos ama e nada Lhe é impossível, nossa dor carrega um propósito. Esse princípio se torna especialmente claro em situações como a enfermidade, onde o sofrimento nos ensina, revela e transforma mais do que qualquer resposta imediata poderia fazer.

Em 2 Coríntios 12, o apóstolo Paulo compartilha sua experiência com o que chama de “espinho na carne”. Trata-se de um sofrimento real e contínuo, que ele descreve como um mensageiro de Satanás enviado para esbofeteá-lo, com o propósito de mantê-lo humilde diante das revelações que recebera de Deus. Ele relatou: "Acerca do qual três vezes roguei ao Senhor que o afastasse de mim." Mas Deus, ao invés de remover o espinho, responde: "A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza." Mesmo sem receber a cura que desejava, Paulo se rende à sabedoria do Pai: "De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo."

O sofrimento remove as ilusões. É como o fogo que revela as impurezas do ouro, não para destruí-lo, mas para purificá-lo. A dor nos faz enxergar com clareza quem realmente somos, quem Deus é, e o que de fato tem valor. O conforto, por outro lado, nos torna mais vulneráveis às distrações, vaidades e à falsa sensação de liberdade que independência gera. As aflições nos obrigam a desacelerar e a refletir. E Deus, em Seu amor que vai muito além do nosso bem-estar momentâneo, sabe exatamente como nos conduzir a esse lugar de dependência dEle.

Em meio ao deserto de nossa atual aflição, precisamos lembrar que a dor não é o fim, é o caminho. Que o sofrimento em Cristo é mais do que um fardo, e sim uma lente. Que possamos lembrar, como Davi que: "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Sl 30:5 ACF). E que em paz, ao final deste doloroso processo, possamos dizer: "Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos". (Sl 119:71 ACF).