Louvor que floresce após a lutaExemplo

Medida por medida

O Salmo 9 é um hino de gratidão, mas também um espelho espiritual. Davi, que conheceu perseguições e injustiças, reconhece que Deus governa o mundo de forma justa e que o mal, inevitavelmente, cai na armadilha que prepara. A palavra hebraica שַׁחַת (shachat) significa tanto “poço” quanto “corrupção”, e essa dupla nuance carrega um ensino profundo: o mal é autodestrutivo.

A imagem que o salmista usa é vívida — as nações que tramam contra o justo acabam presas em suas próprias armadilhas. Essa é a manifestação do princípio espiritual conhecido em hebraico como מִדָּה כְּנֶגֶד מִדָּה (middah keneged middah), literalmente “medida por medida”. É o modo como o universo, sob o governo de Deus, devolve a cada ação a sua justa consequência.

No pensamento hebraico, esse princípio não é vingança divina, mas expressão de equilíbrio moral e espiritual. O mundo foi criado para refletir a ordem do Criador, e toda vez que essa ordem é rompida, a própria realidade trabalha para restaurá-la.
Quando Davi afirma: “O Senhor se dá a conhecer pelo juízo que executa”, ele está dizendo que a justiça é uma forma de revelação. O verbo usado, noda‘ (נוֹדַע), vem de da‘at (דַּעַת), que significa “conhecimento íntimo”.
Deus se revela através dos resultados das Suas ações — e até mesmo através das consequências naturais do mal.

A justiça divina é pedagógica: ela ensina.
Deus permite que certas consequências se manifestem não para nos destruir, mas para nos despertar. Quando o pecado cava o próprio poço, não é Deus quem empurra — é a própria escolha que desaba sobre si.

O Tehillim 9 nos convida a enxergar que a justiça de Deus não é apenas tribunal; é espelho. Aquilo que fazemos retorna, molda e revela quem somos.

Aplicação pessoal:
Em momentos em que você vê o mal prosperar, lembre-se: Deus continua justo. O tempo pode parecer demorado, mas o mishpat de Deus é certeiro.
Por outro lado, quando perceber consequências difíceis na sua própria vida, não se culpe além do necessário, mas pergunte: “O que Deus quer me ensinar por meio disso?”
O Senhor usa até as quedas para nos restaurar.

Oração:
Senhor, Tu és justo em todos os Teus caminhos. Livra-me de cavar poços com palavras, atitudes ou ressentimentos. Ensina-me a viver em retidão, sabendo que tudo o que lanço na terra volta para mim. Que Tua justiça me molde, e não me condene. Amém.

Prática do dia:
Examine o dia de hoje e pergunte a si mesmo: “Tenho cavado algum poço?” Pode ser um hábito, uma palavra dura, uma escolha que precisa de ajuste.
Em seguida, ore pedindo a graça de Deus para “fechar esse buraco” — por meio de perdão, reconciliação ou mudança concreta.