Princípios para Educar na FéExemplo

Ouvir e Compreender: A Revelação de Deus no Shemá
"Ouve, ó Israel: O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor" (Dt 6:4)
Faz algum tempo que tenho pensado em dissertar sobre o texto de Deuteronômio 6.4-9, aplicando-o em forma de conselho e ensino de princípios de Educação Cristã para pais e responsáveis em nossos lares. Ao escrever esta série de devocionais, sinto-me realizado por, ao menos por enquanto e neste formato, poder compartilhar o que aprendi de Deus sobre essa passagem, entendendo qual é a nossa responsabilidade como pais na vida espiritual de nossos filhos.
Nossos filhos, nossas crianças, são um presente de Deus para nós (Sl 127.3). Não devemos pensar que, por serem nossos descendentes, se tornarão automaticamente cristãos, como se a fé fosse neles absorvida por osmose. Definitivamente, não. Eles, assim como todos os seres humanos sem Deus, necessitam ouvir sobre a fé.
E o primeiro lugar onde isso deve acontecer não é a igreja, um programa de televisão, um canal infantil de músicas cristãs no YouTube, um filme ou uma escola confessional. Todas essas coisas são relevantes e importantes no processo de evangelizar as crianças. Mas o início de tudo deve ocorrer em nossas casas, com a Palavra de Deus vinda das Escrituras, dos nossos lábios e refletida em nossas vidas.
A Torah, ou Pentateuco, dentro da estrutura do Tanakh, ou seja, a Bíblia Hebraica, o nosso bom e velho Antigo Testamento, termina com o grande livro de Deuteronômio. Este último livro de Moisés chegou até nossas Bíblias com esse nome por meio da tradução grega do Tanakh, produzida por volta do século III a.C., chamada Septuaginta (ou, abreviadamente, LXX).
Em bom português, Deuteronômio significa “Segunda Lei”, indicando que este livro traz uma repetição de tudo o que é apresentado como a Lei de Deus nos quatro livros anteriores. Curiosamente, os judeus chamam este livro de Devarim (Palavras), nome que se baseia no trecho inicial do primeiro versículo: “Estas são as palavras”. Ou seja, essas palavras seriam repetidas para que o povo de Israel não esquecesse quem é Deus e como se deve viver para Ele.
Quando nos aproximamos deste livro, no capítulo 6, versículos 4 a 9 (eu te encorajo fortemente a ler toda a passagem antes), encontramos uma das passagens bíblicas mais importantes. Esse trecho faz parte de um dos textos mais sagrados para o povo judeu, conhecido como o Shemá (Ouve, ou Ouça), que é sua declaração de fé até os dias de hoje, os mais piedosos o recitam duas vezes ao dia. Ela não é apenas uma oração, mas um chamado diário e constante para que o povo de Deus se lembrasse de quem Ele é e de qual era a sua principal responsabilidade: amar a Deus acima de tudo.
A ordem mais fundamental no Shemá para o povo de Deus não é “faça”, “leia” ou “ensine” em primeiro lugar, mas “ouça”. Esta declaração convida o povo a ouvir uma verdade que deve ser entendida e crida. Porém, esse ouvir não significa apenas escutar com os ouvidos; implica atenção total, compreensão e obediência de todo o coração, como uma consequência imediata. É ouvir com o coração. Antes que Israel pudesse amar a Deus e, consequentemente, ensinar a seus filhos, eles precisavam ouvir primeiro – e ouvir sobre Deus (Rm 10.17 ARC).
É na obediência em ouvir que o povo foi chamado a entender uma verdade sobre o caráter e o ser de Deus: “[...] o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor”. O que essa afirmação ensina ao povo?
Em primeiro lugar: Deus deve ser um pronome possessivo da primeira e segunda pessoas do singular e da primeira pessoa do plural em nossas vidas; ou seja, Ele precisa realmente ser o Meu, o Teu e o Nosso Senhor. Não há espaço para “outros” deuses, senhores ou entes iguais ou maiores do que o Senhor (Yahweh, Javé ou Adonai, como os judeus preferem chamar o nome de Deus).
Em segundo lugar: Deus é o único Senhor, ou Deus é uno, ou ainda, Deus é um. Isso implica que Deus é um Deus exclusivo. É uma afirmação clara do monoteísmo, mesmo que não possua todas as sutilezas da formulação teológica. Basta entendermos e interiorizarmos que Deus é um: antes Dele nunca houve outro, e depois Dele também não haverá (Is 43.10-13).
Em particular, para nós cristãos, este texto do versículo 4 toca de forma sutil, porém profunda, a nossa fé. Embora, para um judeu moderno, esta passagem seja interpretada como sinônimo de “Deus é indivisível”, em contraponto à doutrina da Trindade, a verdade é que a palavra hebraica utilizada por Moisés para “único” é ‘ehadh, que traz a ideia de unidade composta e não de unidade absoluta. Se a intenção realmente fosse falar da unidade de Deus em termos absolutos, Moisés teria usado a palavra yahidh, o que nunca ocorre nas Escrituras para se referir à unidade de Deus.
Trocando em miúdos: Deus é único e uno em sua essência. Somente Ele é Senhor e Ele é um só, não havendo outros deuses nem senhores. Para o povo de Israel, que viveu mais de quatrocentos anos no Egito e se preparava para entrar em Canaã, onde encontrariam outros panteões (divindades), esta afirmação era – e continua sendo – fundamental.
Para nós, pais, esse versículo é a base de tudo. Antes de nos preocuparmos em como ensinar as crianças, precisamos nos perguntar: "Eu estou ouvindo a Deus?". Não podemos discipular nossos filhos na fé se não somos, nós mesmos, discípulos. A educação cristã não começa com um plano de aula ou um livro de histórias bíblicas, mas com um coração que ouve a voz de Deus. Começa com pais, mães e responsáveis que escutam a Palavra de Deus e, então, a praticam (Tg 1.22-25).
Nossos filhos precisam ver que a Palavra de Deus é a fonte da nossa vida. Eles observam se lemos a Bíblia por obrigação ou por sede; se a oração é um ritual ou uma conversa genuína; se a fé é algo que apenas “temos” ou algo que vivemos. Nossa primeira e mais importante lição para nossos filhos é mostrar, pelo exemplo, o que significa ter o coração e os ouvidos abertos para a voz de Deus. A semente da fé é plantada em um coração que ouve.
E o que nossas crianças devem ouvir em primeiro lugar? Que temos um Deus. Um Deus que é único e que se manifestou na plenitude dos tempos na pessoa do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e que não há, neste mundo ou no vindouro, outro que se assemelhe a Ele. O Shemá, “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR”, assim como para as meninas e meninos judeus, deve ser compreendido por nossos filhos como a verdade sobre a qual toda a nossa fé se alicerça, sendo a base de toda a Lei de Deus, tanto na Antiga quanto na Nova Aliança.
Jesus resumiu a Lei reafirmando o Shemá quando disse: “Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc 12.29-30). O Shemá é o princípio fundamental dos Dez Mandamentos, que contêm o cerne da aliança de Deus. Por esta razão, Jesus evidencia o Shemá como o maior mandamento.
Em essência, a declaração de que Deus é único e uno é o fundamento de todo o nosso amor e obediência. Antes de ensinar, precisamos internalizar essa verdade: Ele é o único digno de nossa atenção e adoração. Essa é a base do discipulado que transmitimos aos nossos filhos.
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Aplicação Prática
1. Pense em sua rotina diária. Você tem tempo reservado para ouvir a Deus em oração e na leitura da Palavra? Seus filhos veem isso?
2. Converse com seus filhos sobre o que Deus tem falado com você. Compartilhe um versículo que tocou seu coração ou como Deus respondeu a uma oração. Isso mostra a eles que Deus é real e presente em sua vida. Leia com seu filho a pergunta número 5 do Breve Catecismo de Westminster e ensine a ele a resposta.
3. Reflita sobre como a verdade de que Deus é único e exclusivo impacta suas decisões diárias. Que áreas da sua vida precisam ser mais alinhadas com essa realidade? O que você pode fazer para que seus filhos vejam, em sua vida, que Deus é o seu único Senhor?
4. Lembre-se: o discipulado dos seus filhos começa com seu próprio discipulado. O melhor professor é aquele que nunca parou de aprender.
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Oração
"Senhor, meu Deus e único Senhor, ensina-me a ouvir a tua palavra. Que a minha vida seja um reflexo de um coração que te ouve, te ama e te obedece. Capacita-me, como pai (mãe), a ser o primeiro exemplo de ouvinte da Tua Palavra para meus filhos, para que eles também aprendam a te ouvir. Em nome de Jesus Cristo, nosso Salvador, amém."
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Pr. Demetrius Dourado Farias, pastor auxiliar na Igreja Presbiteriana de Manaus.
As Escrituras
Sobre este Plano

Criar os filhos nos caminhos do Senhor é uma das maiores responsabilidades dos pais cristãos. Em Deuteronômio 6, encontramos princípios preciosos para formar corações que amam e obedecem ao Altíssimo. Este devocional de 5 dias, “Princípios para Educar na Fé”, vai inspirar e orientar você a cultivar, no lar, uma vida que reflete o amor de Deus. Aceite o convite e caminhe conosco nessa jornada transformadora.
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Gostaríamos de agradecer ao Igreja Presbiteriana de Manaus - IPMANAUS por fornecer este plano. Para mais informações, visite: instagram.com/ipmanaus
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