Quando o Dia Começa em RuínasExemplo

Clame. Ele ouve.

Tem dias em que eu oro em silêncio. Outros em que só consigo chorar. Mas há momentos em que a dor sai pela voz — e grito. Não é um grito de rebeldia, é um clamor que vem da alma esmagada. Foi isso que Davi fez: ele clamou. A palavra em hebraico para “clamo” aqui é קוֹלִי (qoli) — “com a minha voz”. O verbo usado indica uma ação intensa, emocional, com envolvimento físico.

Orar com a voz não é só tradição — é coragem. É admitir que não posso me salvar. É rasgar o coração em som. Davi, mesmo em fuga, mesmo desonrado, mesmo humilhado, não perdeu a voz diante de Deus.

E o mais maravilhoso vem depois: “Ele me responde do Seu santo monte.”
A palavra hebraica para “responde” é עָנָה (anah) — um verbo que também pode significar “responder profundamente”, “responder com envolvimento pessoal”. Não é uma resposta automática. É uma resposta do Deus que ouve com o coração.

E de onde Deus responde? Do Seu santo monte — referência ao monte Sião, onde estava a arca, a presença manifesta de Deus entre o povo. Mesmo estando longe geograficamente, Davi cria que seu clamor cruzava o deserto e chegava à presença de Deus.

Eu preciso dessa fé. Porque às vezes parece que minha oração vai só até o teto. Mas o Salmo 3 me diz que a geografia da alma é mais forte que a física. Deus ouve. Do lugar santo, Ele escuta o que digo do meu chão de poeira. E Ele responde.

Reflexão: Você tem usado sua voz? Quando foi a última vez que orou com palavras em alta voz? Que parte do seu clamor você precisa confiar que Deus já ouviu?